Idas e vindas
Ontem parti no busão da cometa com destino a São Paulo.
Cheguei na rodoviária do Tietê.
Peguei o metrô sentido Jabaquara.
Desci na Sé.
Fiz baldiação pra Barra Funda.
Parei na Anhangabaú.
Antes, quase saí pela porta errada e fui parar na janela que dava com a rua (não procure entender como foi isso, pois estas coisas absurdas só acontecem com pessoas extremamente atrapalhadas como eu).
Saí na 7 de abril, de onde parti rumo à Rua Don José de Barros, no centrão.
Fiz tudo isso com a naturalidade de quem não conhece absolutamente nada de Sampa.
Me vi em um momento de reencontro com a velha intrepidez de desvendar cidades novas e de me sentir segura mesmo em lugares totalmente inseguros.
É incrível como a minha vida sempre se deixou ensinar por algumas viagens.
Creio que Deus gosta de me corrigir pelos comandos do “ir” e “voltar”.
Começou por meados de 2000, quando me sentia totalmente perdida, decepcionada, confusa, sem identidade, sem rumo e sem força para viver.
Achei que a saída estava fora.
Parti para a Escócia, tendando me encontrar no meio daquele povo animado e requintado.
Fiz de tudo para ser considerada como um deles: tentei beber como uma escocêsa, falar com o sotaque de uma escocêsa, pensar como uma escocêsa, ambicionar como uma escocêsa, ter piercings como uma escocêsa, amar como uma escocêsa...
Porém, o fora que me cativou tanto, acabou inevitavelmente me traindo: caí como uma escocêsa, fiquei sem palavras como uma escocêsa, fiquei sem entender como uma escocêsa, me frustrei como uma escocêsa e me desiludi como qualquer uma delas.
Voltei, cansada e ainda pior.
Um pouco mais perdida, decepcionada, confusa, sem identidade, sem rumo e sem força para viver.
Parecia estar nos meus últimos suspiros, quando encontrei o sangue de Cristo como oferta de amor perdoador; como bálsamo de cura da vergonha, da dor e do sofrimento.
Cri e tive paz.
Estava ainda um pouco confusa, mas me apresentei assim mesmo para a missão.
Queria uma maneira de viver a paixão do estar disponível para Deus, com a pretensão de ser sujeito operante do caos a ser mudado.
Achei novamente que a saída estava fora.
Parti para Agudos do sul, pensando que em alguma escola conseguiria reconhecer métodos para estabelecer a vontade de Deus nesse mundo destruído.
Fiz o meu melhor para incorporar estes princípios.
Me revesti das angustias da alma religiosa, fazendo do Caminho como uma conduta, da Verdade como uma doutrina, e da Vida como uma performance. Dentro disso, comecei também a colocar as máscaras dos “projetos”, “regras” e “modos de ser”, de forma que pudessem ser rigorosamente aprovados e legitimados pelo meio religioso.
Porém, o fora desta vez era apenas mais uma forma de acomodar minhas fugas, fazendo com que elas se apresentássem de forma covarde e socialmente aceitáveis.
Me enxerguei na minha humanidade.
Voltei, envergonhada e me sentindo só.
Na dor do fracasso, fui obrigada a crescer e a deixar as coisas de menina.
Finalmente compreendi que o segredo de tudo não está em nenhum lá ou acolá, mas sim aqui mesmo, bem dentro de mim.
Compreendi que o evangelho tem que ser vivido no íntimo, tendo a coragem de agir conforme a fé, sem garantia de que o resultado será agradável, do nosso ponto de vista, pois, muitas vezes, é no fracasso que também se aprende a vontade de Deus.
Reafirmei isso ontem, quando fui para São Paulo.
Voltei sem ser contratada como coordenadora de marketing de uma empresa multinacional do ramo alimentício.
Porém, a paz e o gozo permaneceram do meu lado, fazendo as vezes de uma mulher que, de uma vez por todas, trilha seu caminho na simplicidade da confiança.
Entre idas e vindas.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home