domingo, junho 12, 2005

Aquele sorriso


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Hoje é 12 de junho de 2005, mas ela lembra-se de um outro distante dia. Aquele, aliás, era um dia lindo, como o de hoje: o firmamento estava todo azul; só algumas nuvens brancas passavam, apressadas. Lá do alto, o céu parecia olhar para as suas dúvidas por entre as copas das árvores, naquele que era o momento de maior confusão que a menina já havia vivido em toda a sua pequenina existência.
Atrasada como de costume para aquele tipo de reunião, vinha a garota caminhando, em silêncio, a questionar os diversos sonhos e sensações que lhe perturbavam fazia alguns dias. E foi assim, neste contexto de ser e pensar, que ela conheceu uma determinada pessoa. Quando o viu fisicamente pela primeira vez, a moça sentiu uma paz meio encabulada; um tipo estranho de imediata admiração. Era como se há décadas já conhecesse aquele sorriso discreto e doce, capaz de a transcender a boas lembranças e a canções que gostava de ouvir em dias de chuva.
Foi naquele segundo que sua intuição afirmou catedraticamente que ele seria capaz de responder a todos os questionamentos que consumiam de conflito a sua pobre alma.As primeiras palavras que trocaram lhe fizeram sentir um tipo de calafrio de alegria que só sentimos perto de grandes amigos. Porém, quase de imediato e inesperadamente, uma gélida e firme distância se instalou entre aqueles dois. O rapaz partiu, deixando-a sem receber as respostas que tanto ansiava ouvir. Tudo poderia ter se encerrado por aqui - você pode até afirmar que assim teria sido muito melhor. Acontece que as mulheres são sacerdotisas na arte de aderir à intuição; não poderia ela, então, ignorar aquele sentimento de contemplação que lhe havia atingido com uma plenitude de verdade superior a qualquer razão ou conhecimento analítico. Foi por isso que a garota insistiu em manter suas esperanças sobre um "final feliz" naquela história. Acabou afirmando coisas que não sabia, talhando rumos por trilhas de ilusão e conseguindo a incrível façanha de apenas aumentar o número de teoremas sem solução.
Foi quando o silêncio, antes seu amigo de caminhada, começou a lhe parecer a mais cruel das respostas, para que longas noites começassem a cobrir com musgo aquela doce esperança de sanar seus porquês pelos lábios daquele príncipe.

Aquelas perguntas? Ah...elas foram perdendo seu encanto quando a Luz, não sem muita dor e aflição, revelou o oculto e potente auto-boicote de sua alma à Vida abundante que sabe - agora sabe - que a espera pelo Caminho.
E hoje, sentada sob a clareira de novos sonhos, lembra-se de tudo isso – em especial daquele riso sem ruído que ludibriou por grande tempo os seus tantos e tantos porquês. Neste momento me encontro com ela a redigir estes sentimentos, e sabemos que este exercício não passa de uma arma terapêutica para forçar a memória da menina a recordar que a aridez ocupou o lugar de todo aquele bom pressentimento.
Olha...ela admite que precisa mesmo disso, já que mais difícil que estar sozinha no Dia dos Namorados, é possuir na lembrança a existência daquele tal sorriso enquanto anda só.

*ilustração de Geísa Borreli

2 Comments:

At 10:29 PM, Anonymous Anônimo said...

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At 9:52 AM, Anonymous Anônimo said...

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