Pecado Original
Alain Manier: quanto a você, pessoalmente, o que lhe permitiu entender o desejo e todos os impasses do desejo, não foi nem o fato de ser judia nem o fato de crer no pecado original, pois já me afirmou, no passado, que não existe pecado original.
Françoise Dolto: Não! Eu não o afirmo, ao contrário! Digo que estamos sempre dentro dele. Ainda que Cristo nos tenha tirado, sofremos suas consequência: ficamos o tempo todo julgando a vida, para saber se ela é boa ou má. É isso, tocar na questão do fruto da árvore do bem e do mal, do melhor ou do pior. É essa a nossa loucura, que não podemos mudar. E é esta a nossa falta original: falar o que vem, em vez de viver, sem julgar o que dissemos. No fundo, o que fazem os psicanalistas é tratar do texto do pecado original. Eles estão continuamente tratando do texto do pecado original: "Pensei nisso... Foi por causa de minha mãe que pensei isso... Porque ela me inculcou isso... Por amor dela, pensei isso... Queria me casar com minha mãe, mas não o fiz porque isso não se faz... Quem disse que isso não e fazia? Foram os outros! E se você o tivesse feito? Eu não podia, porque tinha medo demais...etc, etc." Tudo isso é o pecado original: o melhor e o pior. Em lugar de viver, e de morrer, sem mesmo se dar conta.
diálogo em Auto-retrato de uma Psicanalista.
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