sábado, setembro 16, 2006

Repentista da vida


O Amor é um causo que me contaram certa vez pelas estradas da vida.
Nele, a história que se declama revela a crônica da moça apimentada que partía apressada todos os dias, ainda ao amanhecer, sempre a carregar na bolsa seu cântaro para matar a sede durante as muitas quilometragens que queria ainda percorrer.
Tinha na fuga a sua trilha, e por ela saltava os mais altos obstáculos, dançava por entre os contos e ludibriava os encontros como qualquer exímio exemplar de sua espécie caída.
Ela era a marca de sua geração: desejo, sonho e ilusão.
Milhas e milhagens percorria para chegar bem longe de se encontrar, pois a sorte sempre era o seu altar.
E nessa brincadeira de não ser, dando volta-e-meia com o muito querer, inevitavelmente acabou entrando na direção de uma rua sem saída.
Era a rua provável da dor, desilusão e ferida.
- “Sem saída”, representavam em relevo os sinais gravados à tinta carmim na placa quase caída em mais uma esquina da vida.
Lágrimas corriam por entre suspiros, mas mal sabia a menina que na impossibilidade fugida estaria o confronto com o que de fato procurava: o Amor do viajante da estrada.
E Ele a olhou no profundo dos olhos, cegando as dúvidas de que ali não estaria o que ela sem buscar, buscava.
Revelou em espelho todos os seus sonhos, medos, intenções e tamanhos.
Tirou a sandalha plataforma e ofereceu um chinelo de dedo.
Coloriu o céu cinza eterno com as cores reais de cada manhã.
Ofereceu água para toda a eternidade.
Pintou as vestes surradas com o vermelho do perdão.
A amou ao infinito, enfim.
E de mãos dadas seguiram, ao que a estrada em toque de mágica ia se tornando um caminho, o único Caminho.
E este era apenas o início de uma crônica novinha em folha, ponto de largada para uma história sem fim...
E foi Ele, o Amor em Pessoa, quem me contou esse causo.
Um conto que me revela em palavras, tanto quanto pode revelar a qualquer outro alguém que se deixe ser escrito não com tinta, mas com o Vento, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne do coração.
A cada dia que refaz cada história.